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sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Resumo dos capítulos de XVIII a XX de "O Príncipe" de Maquiavel


Capítulo XVIII

De que forma os Príncipes devem guardar a fé

Em política, as grandes realizações nem sempre estão em conformidade com a palavra dada. Se é louvável a manutenção da fé, com integridade, em geral é preciso se utilizar da astúcia. Às vezes, deve-se usar da força ao invés das leis. Assim inicia Maquiavel este capítulo, mas também adverte que, ao Príncipe, convém usar com equilíbrio tanto uma como outra.
Nos ensinamentos dos antigos escritos, afirma, encontra-se Aquiles tendo como preceptor Quiron, metade homem e metade animal. Por alusão, isto significa que o Príncipe deve exercer ambas as naturezas: a de homem-animal assim como a de animal-homem, para governar com estabilidade.
Mas na natureza da besta há uma bi-complementaridade: o leão e a raposa. Há que se perceber que a raposa sucumbe aos lobos e, por sua vez, o leão aos laços. Por conseguinte, o Príncipe deveria ser uma Raposa-Leão ou um Leão-Raposa para ser bem sucedido em seu governo. Então, não guardar a palavra dada, por exemplo, quando a mesma for prejudicial ou já não mais houver razão de ser, redunda imprescindível.
Tudo porque os homens são pérfidos, afirma Maquiavel, e esta é uma perfeita justificativa à quebra da fé jurada pelo Príncipe. Por exemplo: Alexandre VI, que nunca fazia o que dizia, mas sempre foi bem sucedido.
Maquiavel também afirma que não é preciso o Príncipe possuir qualidades, mas somente aparentar possuí-las. Melhor parecer ser piedoso, fiel, humano, íntegro e religioso. Pois, ao tempo em que seja necessário não ser assim, achar-se-á rapidamente o ânimo de parecer tornar-se o contrário, por exigências circunstanciais.
Assim acontece sobremaneira com um Príncipe novo que nem sempre será um homem bom se quiser manter o governo. Aparentar sempre possuir aquelas virtudes, usando de dissimulação, inclusive a de religioso (a mais difícil delas). A aparência se evidencia à essência, ao vulgo.
No fim das contas, o que importa é se o êxito é bom ou mau. Então que seja bom, através dos meios passíveis de serem julgados honrosos e louvados por todos. Como exemplo, Maquiavel dá o de Fernando, o católico, que pregando a paz e a fé é inimigo acérrimo de um e de outro, usufruindo, no entanto, de íntegra reputação aos olhos do vulgo.

Capítulo XIX

De como se deve evitar o ser desprezado e odiado

Evitar ser odiado ou desprezado, ministra Maquiavel. Não vemos os defeitos daqueles a quem amamos.
Não ser rapace nem usurpar dos bens e das mulheres dos súditos, instrui, sabiamente, o italiano. Restaria, então, apenas a ambição de poucos, facilmente refreável.
Não ser, ou não deixar transparecer ser, volúvel, leviano, afeminado, pusilânime, irresoluto. Deve-se evitar tais defeitos à exposição pública, como um nauta evita um rochedo, lembra o bom conselheiro.
O Príncipe deve deixar serem reconhecidas, em suas ações, grandeza, coragem, gravidade e fortaleza. Em suas decisões e ações dirigidas aos súditos, constituir-se irrevogável e resoluto para não propiciar dúvida alguma quanto à firmeza de suas idéias e dirimir qualquer intenção de o ludibriar ou o fazer mudar de idéia. Com isso, consegue-se reputação. E contra quem é reputado e reverenciado pelos seus, dificilmente se conspira ou se ataca.
Maquiavel destaca duas razões de receio: de ordem interna, os súditos; de ordem externa, os poderosos de fora. Aos de fora, boas armas e bons aliados. Com boas armas, têm-se bons amigos. Aos de dentro, fazendo com que haja satisfação popular.
Quem conspira, conspira contra o Príncipe odiado, não o bem amado pelo povo.
Em um conspirador há apenas medo, inveja e suspeita de punição.
No Príncipe há a majestade, as leis, a defesa dos amigos e do Estado e, se tiver a estima popular, haverá também o antídoto aos conspiradores. Como exemplo: os Canneschi mortos e preteridos em razão de Messer Giovanni (à época, uma criança de colo). Razão: benquerença e benevolência popular para com a casa dos Bentivoglio, que entregou o governo do Estado a um jovem parente distante, filho de um ferreiro, até Messer Giovanni atingir idade suficiente para reinar.
Que são conspirações para um Príncipe amado pelo povo? O problema então é quando é odiado. Deve mesmo temer tudo e a todos, adverte Maquiavel. Solução: não desprezar os grandes e satisfazer e contentar o povo, como na França, por exemplo, onde o Parlamento refreia a ambição e a insolência dos poderosos e, protege o povo daqueles, tirando, providencialmente, o peso do descontentamento dos grandes que seria dirigido ao Príncipe.
O que não ocorria no Antigo Império Romano, onde além da ambição dos grandes e da insatisfação do povo havia uma terceira dificuldade: a crueldade e a rapacidade dos soldados, causa da ruína de muitos imperadores ricamente enumerados, analisados e, após uma digressão impecável, Maquiavel chega a uma conclusão: o ódio e o desprezo foram causa de ruína. Ademais, finaliza, genialmente, dizendo que um Príncipe novo deve aproveitar e utilizar as ações e qualidades necessárias e imprescindíveis para a fundação e manutenção do Estado.

Capítulo XX

Se as fortalezas e muitas outras coisas que dia a dia são feitas pelo Príncipe são úteis ou não

Dentre tantas ações e deliberações, há de se verificar que nunca um príncipe novo desarmou os seus súditos, mas, ao contrário, ao encontrá-los desarmados, armou-os. De suspeitos, os novos súditos hão de se tornar fiéis e auxiliares. E se, por dificuldade de armar e beneficiar a todos os súditos, os que não sejam agraciados hão de divisar a impossibilidade de generalização e ainda compreenderão, conformados, que quem presta serviço, estando exposto a maiores perigos, por direito, seja bem recompensado, e não reclamarão a sua parte.
Ao contrário, o desarmamento, por precaução, gera dúvida e descontentamento por estar implícita a falta de confiança depositada, confundida como covardia. Restando a milícia mercenária, contra súditos insatisfeitos além de eventual poderoso inimigo esterno, o que se demonstra claramente indesejável.
Ao conquistar um novo Estado, anexando-o aos domínios, urge desarmá-lo, exceto àqueles que colaboraram com a conquista, mesmo assim até certo tempo, quando então as armas, por completo, passariam para o exército do Estado antigo.
Jamais se permita que haja divisões em um principado poderoso, pois a grandeza de um Príncipe é medida através da superação das dificuldades e oposições que se lhe movam.
Com astúcia, o Príncipe sábio deve fomentar inimizades contra si mesmo, a fim de se engrandecer através da vitória contra esses mesmos inimigos.
Aqueles que, de início, em geral, demonstram-se suspeitos ao Príncipe recente, com o tempo, tornam-se confiáveis, pois precisam, para crescer, de apoio no governo e, assim, são conquistados com facilidade. Gratos, com redobrada diligência, esforçam-se por demonstrar reconhecimento incondicional, em detrimento das divergências iniciais. Diferente daqueles que, por segurança, não precisando provar nada, negligenciam os interesses do Príncipe.
Maquiavel também mostra que é mais fácil conquistar a amizade daqueles que estavam contentes com o regime antigo do que manter a simpatia dos que, por descontentamento, fizeram-se seus inimigos e ajudaram ao Príncipe na conquista do Estado.
Com sua lucidez característica, Maquiavel disse que o Príncipe que tiver mais medo do seu povo do que de estrangeiros, que construa fortalezas. Mas a melhor fortaleza que pode existir é não ser odiado por seu povo. Seguro, no interior de uma fortaleza, dos inimigos esternos, resta ainda a preocupação com o inimigo interno. Seguro no interior da fortaleza da benquerença popular, mesmo que a fortaleza de pedra vire pó, haverá real segurança e incondicional lealdade no coração dos súditos.


BIBLIOGRAFIA


MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Tradução: Lívio Chavier. 4 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. (Os Pensadores). Cap. XVIII a XX.


Jorge Pi

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