Posse de Luciano
Correia na Academia
Itabaianense de Letras apresentado pelo Acadêmico Antonio
Samarone...
"O homem,
um ser historicamente construído, tem nos seus ancestrais a condição de
mediadores quando na sociedade em que vive há uma cultura de memória. No
entanto, é o registro fiel dos acontecimentos que favorece a garantia da
preservação das histórias de vidas. Ao contrário, a sociedade fica condenada a
ser refém da imaginação, de mitos, que podem distorcer a verdade da existência
humana. Nesse caso, há uma perda no espaço e no tempo de contribuições que
poderiam servir de exemplos e, mesmo como referências inacabadas, se
constituiriam de ponto de partida para reconstrução melhorada da vida em
sociedade. Por isso, a criação da Academia Itabaianense de Letras tem grande
importância. O levantamento de vultos históricos da cidade escolhidos como
patronos dos Acadêmicos, são por eles biografados e motivos suficientes para
que se perceba a grandeza de nossa gente.
Dessa vez, a
posse do Acadêmico Luciano Correia teve como patrono uma personalidade de nossa
história que se confunde com a música e de sensibilidade melódica inerente ao
Itabaianense. Prova disso é a contínua existência da Filarmônica N Srª.da
Conceição (Sociedade Filarmônica Nossa Senhora da Conceição ) desde sua criação
datada do século XVIII até os dias atuais. Considerada a mais antiga do Brasil, tem
nos seus pioneiros, referência para sua reconstrução melhorada que passa
atualmente essa Sociedade Filarmônica. Tudo isso graças fundamentalmente ao
empenho de pessoas aguerridas como o Maestro Valtênio e do Dr. Rômulo De
Oliveira Silva que atualmente asseguraram de forma brilhante a preservação de
um acervo de partituras e instrumentos com a criação de um Museu, e
desenvolvimento de outras atividades que possibilitam ampliar os horizontes a
tantos jovens pela motivação musical.
A cerimônia de
posse foi abrilhantada pela Banda Sinfônica N. S. da Conceição que nos remeteu
aos primórdios de sua existência executando composições do patrono Samuel
Pereira de Almeida. Por sua vez, Luciano Correia que apesar de contar com pouca
informação a seu respeito conseguiu realçar a importância do músico. Iniciou
sua fala historiando brevemente a relação da música com a evolução do homem e
enaltecendo a virtude de nosso povo em se fazer sensível às notas musicais
utilizando-se de intertextos significativos que mereceram prazerosamente a
atenção do público presente. Eu cá na minha habitual introspecção,acompanhada
de meu irmão Jorge Pi (que também trás nas entranhas o viés da música) como
bisneta de Samuel, pensava como poderia ter sido bem mais proveitosa toda essa
biografia se historicamente em nosso meio tivesse mais valorização de registro
da ocorrência dos fatos relevantes de nosso município, uma vez que seus
descendentes mais próximos já não mais vivem entre nós.
O tempo
presente recebe como lição esse vácuo de informações, mas tem a vantagem de
doravante ser mais benevolente com o registro histórico. É nesse sentido que
surge a Academia Itabaianense de Letras que ao cumprir o papel de registrar as
contribuições das pessoas e os fatos relevantes da nossa comunidade, estará
contribuindo para o engrandecimento do nosso município."
De fato! Tem sido um agradável
refrigério para minha alma o testemunhar cada Cerimônia de Posse dos Imortais
da Academia Itabaianense de Letras - AIL. Tanto que, por vezes e vezes me tomo
a, íntima e toscamente, parodiar uma das minhas preferidas pérolas pessoanas: a
ABL é maior e melhor do que a nossa AIL, mas, a ABL não é maior e melhor do que
a nossa AIL, por que a ABL não é A nossa AIL!
Com tão
poucos registros sobre Samuel Pereira de Almeida (o nosso bisavô e o Patrono da
Cadeira de n.º 30 da AIL), oriundos dos valorosos trabalhos de Sebrão, 'o
Sobrinho', de Vladimir Souza Carvalho, bem como de certos depoimentos seus,
minha mana Tereza Cristina, é
impressionante o brilhantismo encontrado no discurso do Acadêmico
empossado, Dr. Luciano Correia, que nos
faz atentar para o fato de que o seu Patrono fora, antes de tudo, um inovador,
um visionário e um vanguardista! Sim. Em lombos de burros, trouxera
'instrumentos de pancadaria' da distante metrópole soteropolitana, tendo em
vista dar um novo hálito à música na Velha Loba. Fora do exclusivismo da
secular utilização da, então, 'Orquestra Sacra', para fins de serviço de apoio
às cerimônias e rituais litúrgicos da Instituição católico-romana nas terras da
Irmandade de Santo Antonio e Almas de Itabaiana, de repente, surge, na vida
secular e profana itabaianense, uma atividade voltada para a cidadania
republicana e, não somente, para fins religiosos. Como bem lembrou o acadêmico
empossado, não se pode desassociar os instrumentos percussivos da música, no
mercado fonográfico mundial, nos dias de hoje, sem que se corra o risco de um
resultado desanimador. E posso até acrescentar que a própria Igreja se rendeu,
em seus cultos e cerimônias, ao ritmo percussivo como não seria possível prever
ou supor naqueles intrépidos e aventureiros dias vivenciados por um idealista
ceboleiro que, indo para uma cidade infinitamente maior, não perdera, em sua
alma serrana, o gosto pelo sentido de um retorno à sua terra, trazendo-lhe o
Novo, sendo, ao mesmo tempo, a Preservação do Antigo, sob a aparência da
rebeldia e da ruptura. Apesar de reconhecer o grandioso e devido lugar da
Música Erudita, como seria possível a criação de uma Orquestra Sinfônica, em
nossos dias, no âmbito da Sociedade Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, laica
e irrestritamente "independente" da Instituição Católica, sob a
competente batuta de nosso amigo e competente Maestro Valtênio, bem como o
empenho do ilustríssimo Dr. Rômulo De Oliveira Silva, sem a
pequenina e ousada ação de nosso bisavô, não é mesmo, TC?!
Jorge Pi
Fonte da imagem de Samuel Pereira de Almeida: