Há algum tempo, decidi mudar meus cumprimentos de felicitação natalícia, da usual injunção "Feliz Aniversário", no sentido de "parabéns pra você", para uma minha neo-expressão: Feliz Idade Nova!
Aqui, não reivindico direito nenhum de autoria (apesar de ter sido criada por mim)... Nem, tão-pouco, faço restrição alguma do seu uso, indiscriminado, ou não, por quem quer que seja. Todavia, não posso dissimular a enorme satisfação imbuída de uma grande honra, caso venha ser disseminada de boca em boca, de postagem em postagem, de rede social em rede social... Afinal, que o destino de nossos filhos sempre seja o de dar-se ao mundo, não é mesmo?!
Dito isso, passo a afirmar que sempre estranhei como sendo desprovida de sentido a expressão secular "parabéns pra você"!
Não, que a deficiência estivesse na expressão, em si; mas, em minha tamanha inabilidade em decifrar-lhe o sentido léxico e semântico.
Pois, afinal, qual o significado preciso desta terminologia e por que nos acostumamos à sua repetição mecânica, sem nos indagarmos sobre seu tino e nossa compreensão em torno dela?!
Nos escritos do velho Machado de Assis, a forma 'parabém', no singular, é-nos configurada, inusitadamente, em vez da, ora em uso, 'parabéns', no plural. No entanto, dada a absorção vocabular desde a mais tenra idade, curiosamente, sempre somos levados, automatamente, a tê-la dissociada da ideia plural e, sim, como em 'lápis', no processo da invariabilidade gramatical.
Ora, se o termo para-raios se refere a um dispositivo metálico pontiagudo, afixado no cume de um determinado edifício, cuja função é a de capturar, numa certa área, os eventuais raios que porventura ali se façam manifestos eletricamente, então para-bém poderia ser uma certa predisposição à atração de bens de toda sorte, na vida?!
Gosto de pensar que sim!
Mas, isso nos remete a um pequeno problema: ao desejarmos ‘parabéns pra você’, não estaríamos ofertando ao nosso amigo, ou amiga, parente ou conhecido, algo de ‘quantitativo’, quer de natureza material ou espiritual, sem a devida noção do peso deste nosso ‘mimo’, no sentido de que pode estar carregado de implicações insuspeitadamente inconsequentes, destarte toda nossa boa e singela intenção?!
Desta forma, em minha análise, talvez equivocada (reconheço!), é certo que estaremos desejando o Bem à pessoa-alvo de nossa intenção filantrópica; no entanto, persiste fato de que, muito provavelmente, trata-se de um desejo arbitrário de disseminação da Felicidade, vez que, desconcertantemente, nosso entendimento do que seja ‘certo’ ou ‘errado’, volta e meia está em discordância com a realidade factual das relações causais implícitas a toda experiência por nós vivenciada. Em outras palavras, algo que nos ocorra com aparência de bem, pode, no final das contas, acabar se tornando um mal; e, travestido de um inegável mal, um grande bem se nos bate à porta, inusitadamente, não é mesmo?!
Por esta simples e ora revelada razão, resolvi criar o termo FELIZ IDADE NOVA, numa perspectiva de não cercear a dor e o sofrimento, sob o pretexto de serem incompatíveis à consecução da Felicidade, na vida de alguém. Claro que não se trata de desejar os ‘paramales’; mas, insuflar na essência anímica daquele a quem nos dirigimos, a ideia de receber de bom grado o bem e o mal, como ferramentas indispensáveis a uma ascensional evolução pessoal.
Aliás, desejar ‘parabéns’ é focar o Indivíduo, em detrimento da pessoa humana objeto de nossa atenção. E, aqui, podemos digredir um pouco num entendimento particular: indivíduo é “o” sujeito temporal estanque, que podemos ver no momento em que, com ele ou ela, interagimos, destituído de sua implícita subjetividade mais profunda, dada a nossa tendência a focar o superficial, em vez do mais profundo, em tudo.
Pessoa, no entanto, trata-se da abrangência do ser que se instaura no Processo Existir e se expressa de forma múltipla e diversa, por intermédio do (e graças ao) Ser, que lhe dá suporte e potencialidade.
Pessoa, portanto, é o ‘fenômeno-numênico’ que está por trás, ou por dentro, do ‘númeno fenometizado’ chamado Indivíduo, com características mutáveis e mutantes e que pode ser ‘identificado’ por um documento oficial e uma aparência momentânea transitoriamente expressa em ser criança, adolescente, adulto e idoso, em sua vida.
Quer dizer: desejar FELIZ IDADE NOVA é direcionar um intento ‘qualitativo’ a uma PESSOA cuja abrangência axial se estende desde a concepção intra-uterina até a chamada morte.
Ou seja: desejar ao Ser Completo a possibilidade da Congratulação com o Testemunhar Presencial da Vida, em mais um novo ciclo solar de experiência evolutiva.
É não sobrecarregar o Indivíduo com o modo Ter de Existência, no qual, se o favorável acolhimento das boas coisas da vida é a tônica, o despreparo diante dos inevitáveis e, o mais das vezes, imprevisíveis revezes, no entanto, é patente; mas, verdadeiramente, PRESENTEAR a PESSOA com a salutar perspectiva de uma esperançosa e amadurecida comunhão com as misteriosas deliberações causais, que nos permeiam, inelutavelmente, o Caminho, e nos permitem, generosamente, o Caminhar.
Assim, desejar FELIZ IDADE NOVA é, simplesmente, fazer perceber que toda idade É NOVA, independentemente de nossa idade cronológica, e sempre nos abre um Portal para o NOVO que nunca, em hipótese alguma, deveríamos, displicentemente, negligenciar!
Além do mais, podemos, subliminarmente constatar que o termo FELIZ IDADE NOVA, repito, pode ser uma graciosa e poética corruptela de FELICIDADE NOVA que nos é dada totalmente de GRAÇA, na Nova Idade cronológica que adentramos, enquanto Indivíduo que passa, no âmbito processual de Pessoa, na Generosa e Ininterrupta Celebração da Vida!
- Jorge Pi