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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Um Comentário sobre A Pedra Azul

(Jackson Santos Trindade)



“A Pedra Azul” de Jorge Pi é um livro de muitas leituras e estilos. Pode-se lê-lo como quem lê a bíblia, interpretando parábolas e preenchendo os vazios humanos que exigem a “religação”; como quem observa às escondidas os desajeitados modos pueris do aprendiz que procura imitar seu ancestral; como quem acompanha a descrição da vida que passa; como quem se desprende das coisas e salta para a vida com a mesma leveza do desfazer dos “laços”, “soltos”, ouvindo “linda melodia linda”; como quem lê a poesia da infância de Manuel Bandeira ou a poesia bucólica de Alberto Caeiro – heterônimo de Pessoa. Em “A Pedra Azul” encontramos o ofício poético livre, já que as modalidades de poemas presentes ali sugerem que o poeta experimentou com as formas de compor. No livro, poemas que se pretendem concretos dividem espaço com poemas de formatação tradicional de estrofes, alguns com rimas e bastante musicais, outros sem rima e de poucos versos. Jorge não é um poeta famoso, seus poemas tampouco surgiram de uma pretensão artístico-literária, no entanto o valor de sua obra em termos de uma avaliação sob a perspectiva da literariedade é indiscutível. O uso primoroso das figuras de linguagem, a presença de trocadilhos e desdobramentos anagramáticos e a surpresa que desperta quando faz uso de um sinônimo perfeito ou de uma correlação metonímica ou metafórica em vez de fechar o verso com uma palavra óbvia que o leitor poderia intuir, ajudam a comprovar a afirmação. O poeta joga com as palavras, como se as embaralhasse para depois ordená-las como quer, dando ao jogo e ao resultado final o sentido lógico do ir construindo ao mesmo tempo em que discute a construção. “A Pedra Azul” é um livro que diz muito. Além de rico do ponto de vista literário, o olhar do eu poético sobre a vida, cobrindo o antes do nascer, o crescer e o unir-se na comunhão dos homens e seres, sugere ensinamentos com relação ao convívio entre homem e terra, sem apelos para o altruísmo barato ou força mística desconhecida a que ninguém teria acesso. O eu poético observa o que está à sua volta, aquilo que todos observam sem ver, porém ele sabe interpretar o que vê e traduz tudo na forma de uma sabedoria baseada na simplicidade. Ele não exclui o leitor da experiência por hora transcendental, surreal, ao mesmo tempo real e cotidiana, ele o convida a participar, descobrir e compartilhar a sabedoria que emana '[d]A Pedra Azul'”.