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quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Um bode

É um bode, não é?! Desculpe-me a ignorância. E, de qualquer forma, capturada nesta foto, pode-se perceber algo de humano, na pose fisionômica deste expressivo ser ao lado deste humano tão empenhado em lhe fazer companhia ontológica. E talvez o humano seja mero degrau, mesmo, na animalidade animada pela mesma Alma que é o que importa, afinal de contas. Nas contas deste lindo colar hierárquico é, a Vida, o cordão que une. Une-nos: ossos, minerais que esperam; órgãos, vegetais que sentem; corpos que se dão à Consciência! Fala?! Nesta foto, a fala é o cartaz que brilha, as palavras poucas, o sorrir do homem e o olhar do bode.

- Jorge Pi


Vinil


Mágico! O atritar de uma agulha num micro-sulco disposto em um perímetro concêntrico espiralado, posto em movimento, na precisa rotação que melhor reproduza acusticamente, aos nossos ouvidos, o que em certo momento e por determinada intenção foi eleito alvo de registro e destinado ser arquivado como patrimônio humano-cultilural, para futuras consultas e reavivamento sensório-memorial.
Mágico e eu não me dava conta disso quando só havia esta forma de se ouvir música em discos.
E pensar que eu cheguei a achar mágica foi a nova e inusitada possibilidade tecnológica de ouvir áudios com aquilo que pensei ser pureza. Mas não era. Puro, mesmo é nós nos deliciarmos com aconchegantes estalidos em meio ao som - objeto estético de nossa deleitante focalização auditivo-atualizacional do que quer que tenha sido gravado, um dia.

- Jorge Pi

Um menino

Naquele tempo... Havia um menino que gostava de ouvir os mais velhos. E ficava extasiado com o que ouvia e aprendia. E aprendia a ser velho, antes do tempo, num tempo menino... Naquele tempo.

- Jorge Pi

Escuto


O silêncio grita em surdinatos impropérios, como se achasse que ninguém o houvesse de escutar.
Mas eu o escuto.
E ele nem sequer há de vir a perceber meu escutar.
Escuto e esqueço, que no esquecimento residem todos os registros do anonimato.
Ah, não! Eu o mato e o desvelo em desvelórios aleatórios, retardatários...
Retardo e tardo em tardes noites de manhãs veladas.
Que as parcas chances de se ser instantes são perturbadas, desvirtuadas, esclerosadas.

- Jorge Pi

Espiar

Eles espiam... E espiam com tanto empenho que o que espiam se debruça pra os olhar espiando e se enternece e os deixa mesmo espiar. E eles espiam e espiam e se comprazem no espiar. Mas, afinal, o que eles espiam? O que não sabem, mas que pretendem saber; o que não podem, mas que pretendem poder; o que não sentem, mas que pretendem sentir. Saber poder sentir é o que espiam e se comprazem, ao espiar!

- Jorge Pi