quarta-feira, 28 de agosto de 2013
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
Carta Aberta aos Cidadãos e Cidadãs do Mundo

Para resumir o que pensamos, temos a sensação que a humanidade foi
tomada por uma loucura coletiva e que perdeu toda a referência: a mais
aflitiva divulgação de tolices, de vulgaridade e de falta de pudor
apresenta recordes de audiência; o voyeurismo atinge o auge; tudo faz
crer que o sentido da vida é ficar cada vez mais rico e famoso, se
possível rapidamente e sem qualquer esforço; a violência, já onipresente
na vida cotidiana, é exaltada pela televisão e pelo cinema; os meios de
comunicação se sentem obrigados a apresentar aquilo que há de mais
sombrio na natureza humana; qualificamos de ‘estrelas’ ou de ‘artistas’
as pessoas cuja qualidade primordial é estar sempre na moda ou agradar
uma pseudo-elite; a ‘razão da juventude’ causa grandes estragos;
confundimos ‘humor’ com ‘escárnio’; o culto à personalidade só se iguala
ao culto do corpo; glorifica-se a grosseria e se estigmatiza o
refinamento; a desfaçatez, a impertinência e a insolência são elevados à
categoria de virtude, etc.
A crise financeira, econômica e social que o mundo enfrenta há muitos
anos tem a ver com o que acabamos de dizer, e seria injusto atribuir
isso unicamente à deriva de um sistema financeiro e bancário pervertido.
A causa disso tudo está também no desregramento generalizado da
sociedade, principalmente nos países que chamamos de ‘desenvolvidos’.
Através de uma enxurrada de publicidade muitas vezes enganosa e de todo
tipo de crédito, as pessoas são levadas a consumir, custe o que custar, e
a fazer do ‘ter’ um ideal de vida, em detrimento do ‘ser’. Na mesma
linha de pensamento, faz-se do dinheiro, mesmo virtual, a base de um
‘consumismo’ desenfreado. Embora devesse ser um meio de troca que
permitisse a cada um obter aquilo que fosse necessário para viver
decentemente no plano material, acabou se tornando um fim em si,
deixando de lado qualquer ética. Certamente nunca houve um agente de
aviltamento, um vetor de corrupção e uma fonte de desigualdade social
igual ao dinheiro. Agindo como um novo ídolo, não tem adeptos apenas nos
meios em que reina a ganância e a avareza.
Entre vocês, alguns pensarão que esta constatação é severa demais, e até
mesmo negativa demais, e que ela revela uma visão excessivamente
pessimista do mundo atual. Outros talvez possam chegar a supor que isso
seja obra de ideólogos reacionários em busca da ordem moral. Todavia,
nossa filosofia nos inclina ao otimismo e até mesmo ao utopismo. Quanto à
moral, damos a ela a abordagem que toda pessoa inteligente e sensata
deveria partilhar, pois vemos nela o respeito por si mesmo, pelos outros
e pelo meio-ambiente, no que não há nada de moralizador, nem mesmo de
moralista. Além disso, achamos que nosso julgamento sobre a condição em
que se encontra a humanidade é simplesmente realista. Vamos, portanto,
prosseguir, partindo do princípio que você concorda com isso, mesmo que
seja apenas parcialmente.
A questão que se coloca é de saber por que o mundo chegou a esse ponto.
Pensamos que isso se deve ao fato de ele ter afundado gradativamente num
materialismo e num individualismo excessivos. Atualmente, a maior parte
das pessoas se comporta como se o sentido da vida fosse obter o máximo
de bens materiais e de desfrutar, na medida do possível, de prazeres
sensoriais, às vezes até o paroxismo. Fazendo isso, nutrem os aspectos
mais egoístas da natureza humana, como os desejos de possuir, de
dominar, de aparecer, etc. Da mesma forma, cultivam o individualismo e
seu corolário: a exclusão. Por outro lado, o simples fato de crer em
Deus ou de se referir a ele se tornou algo ‘laicamente incorreto’ e
considerado ‘fora de moda’. Foi assim que o ‘cada um por si’ se tornou
uma cultura, e o ateísmo, um modo de vida. Lamentamos profundamente,
pois isso vai de encontro ao bem-estar da humanidade.
Se você partilha deste ponto de vista, vai compreender que só existe uma
alternativa para se colocar um fim neste espiral ‘infernal’ e devolver à
humanidade a esperança de dias melhores: de injetar nela mais humanismo
e espiritualidade, a que nos dedicamos através de nossos ensinamentos e
de nossa filosofia. Pensamos, de fato, que ambos são pilares sobre os
quais a humanidade deve se apoiar para se livrar dessa condição atual e
se elevar a um estado de civilização digno de seu nome. Se isso não for
feito, a crise generalizada com a qual nos deparamos vai se intensificar
e gerar ainda mais dificuldades, provações e sofrimentos. Esse já foi o
objetivo que lançamos no “Positio Fraternitatis Rosae Crucis”,
manifesto que publicamos em 2001 e divulgamos a nível internacional.
Com ‘injetar mais humanismo’, queremos dizer que se torna urgente
(re)colocar o ser humano no centro de nossas preocupações e de
(re)colocarmos a seu serviço todos os domínios de atividade humana:
economia, política, ciência, tecnologia, etc. De fato, não se pode
aceitar, na aurora do século XXI, que milhões de homens, mulheres e
crianças morram de fome, não tenham acesso à água potável, não disponham
de uma habitação decente, vivam na indigência, não tenham meios de
tratar da saúde, trabalhem em condições indignas, não saibam nem ler nem
escrever, etc. É preciso parar de confundir ‘viver’ com ‘sobreviver’.
Isso tudo é ainda mais triste e lamentável quando lembramos que a
humanidade como um todo dispõe atualmente do saber e de meios técnicos
que permitem tornar todos os indivíduos felizes. É simplesmente uma
questão de vontade.
Com o passar do tempo, os homens criaram um mundo do qual eles mesmos
foram se excluindo. Nas sociedades modernas, ficaram tão dependentes da
informática e das máquinas, que essas coisas acabaram por substituí-los
em tarefas que não são nem úteis e nem necessárias. Consequentemente,
desumanizaram a sociedade e fizeram dela um espaço de sobrevivência onde
a esperança deu lugar à desesperança. Por horas de internet,
comunicam-se através de tela, mas não encontram tempo para se falarem.
Resultado: poucas pessoas são de fato felizes, e muitas são estressadas,
aflitas, deprimidas. Resumindo em uma palavra: infelizes. Certamente, o
nível de evolução de uma sociedade não é medido por seu desempenho
tecnológico ou por seus conhecimentos científicos, mas pelo bem-estar
real de todos os seus membros e pelo prazer que têm de viver juntos.
Como efeito da globalização, país algum, por maior ou mais poderoso que
seja, vai poder prosperar daqui para frente sem levar em conta o
desenvolvimento dos outros, por menores e mais fracos que sejam. Nesse
sentido, o mundo se tornou uma só nação – o que deveria nos alegrar
muito - e o destino de todos os homens está interligado. A noção de
‘Cidadãos e Cidadãs’ do mundo não é mais uma imagem mental, mas uma
realidade que precisa ser levada em conta para o bem de todos e de cada
um. Além disso, no caso de isso ainda não ter acontecido, nós os
incentivamos a transcender o individualismo, a superar o nacionalismo e a
assumir o conteúdo do artigo 10 da “Declaração Rosacruz dos Deveres do
Homem”: “Todo indivíduo tem o dever de considerar a humanidade toda como
sua família e de se comportar em todos os momentos e em todo lugar como
um cidadão do mundo, fazendo do humanismo a base de seu comportamento e
de sua filosofia”.
Mas, ser humanista não é apenas trabalhar para o bem de todos os homens;
é também se preocupar com o meio em que vive e ao qual deve sua
existência. Mas, você sabe tanto quanto nós, que o planeta corre o risco
de se tornar inviável se não colocarmos um fim nos diversos males que o
ameaçam (aquecimento global, poluição de diversos tipos, desmatamento
excessivo, desequilíbrio dos ecossistemas, etc.). E ainda mais: a
humanidade tem a consciência e a tecnologia necessárias para agir dentro
do bom-senso, mas não existe vontade tanto no plano individual quanto
no coletivo. Com relação às gerações futuras, não temos mais a desculpa
de não sabermos ou de não podermos fazer alguma coisa. Nossa
inconsequência é ainda mais grave quando pensamos que a Terra é para os
olhos de todos a obra-prima da Criação. Mesmo um ateu tem a tendência a
divinizá-la por sua beleza e pelas maravilhas que realiza em seus
diversos reinos. Diante de tal consenso, o que estamos esperando para
tornar sua preservação uma causa humanitária universal?
Com ‘injetar muita espiritualidade’, queremos dizer que é do interesse
de todos os homens fazer as pazes com Deus, no sentido místico do termo.
Se esclarecemos que é no ‘sentido místico do termo’ é porque sabemos
muito bem que a maioria das pessoas não adere ou não adere mais ao que
as religiões - que, é preciso ressaltar, respeitamos - dizem ou
disseram. Há séculos, para não dizer milênios, elas O representaram como
um Super-homem sediado no céu, de onde decide o nosso destino,
inclusive o momento de nossa morte. Por essa abordagem, encorajam os
fiéis a se submeterem à Sua vontade e a procurarem salvação nos dos
dogmas a que se prendem. Mas, como demonstra a experiência, esse modo de
viver a fé não deixa ninguém nem melhor nem mais feliz. Isso explica,
em grande parte, porque os crentes se afastam das religiões chegando até
a se tornarem ateus. E será que ficam satisfeitos com isso?
Mas, concordando ou não, todos os homens têm uma alma e sua essência é
espiritual. É por isso que não conseguem encontrar felicidade no ateísmo
ou no materialismo. Rejeitar Deus, como muitos fazem atualmente, é,
portanto, um contra-senso que leva a um impasse. O que se faz necessário
é repensar a ideia que se tem dEle e agir de forma conseqüente. Do
nosso ponto de vista, vemos nEle a inteligência, a consciência, a
energia, a força (pouco importa o termo que se use) que está na origem
de toda a Criação. Como tal, Ele se manifesta no universo, na natureza e
no próprio homem através de leis impessoais, imutáveis e perfeitas. Mas
é no estudo e no respeito a essas leis que reside a felicidade a que
todos aspiramos. É chegado, então, o momento de passar da
‘religiosidade’ para a ‘espiritualidade’, isto é, de passar da ‘crença
em Deus’ para o ‘conhecimento das leis divinas’, no sentido das leis
naturais, universais e espirituais.
Mas é preciso que fique bem claro: não se trata de transformar os
estados em teocracias ou de adaptar suas instituições a uma abordagem
religiosa à vida em sociedade. Nisso, a laicidade é necessária para
garantir uma independência mútua entre a política e a religião. Pensamos
apenas que, se por um lado, é legítimo para o homem querer melhorar sua
condição material, por outro, isso não é suficiente para lhe trazer
felicidade. Se estamos aqui na Terra, é para responder a uma exigência
espiritual que, cedo ou tarde, incita todo ser humano a conduzir uma
busca de sentido. Do ponto de vista místico, nossa presença aqui tem por
objetivo essencial tomarmos consciência de nossa natureza divina, e de
expressarmos isso em nossa vida diária em nossos julgamentos e
comportamento. Em outras palavras, e como ensinava Sócrates já na sua
época, estamos na Terra para nos aperfeiçoarmos e despertarmos as
virtudes da alma que nos anima. Esta é nossa razão de ser; este é o
nosso destino comum.
Certamente, não podemos provar a existência de Deus. Contudo, os homens
fazem parte de um universo que são capazes de contemplar e estudar. Isso
é necessariamente o efeito de uma causa, pois tudo o que existe tem uma
origem. E já que ele é regido por leis que os próprios cientistas
consideram admiráveis, conseqüentemente essa causa original é
prodigiosamente e absolutamente inteligente. Logo, porque não chamar
isso de ‘Deus’ e ver neste último a inteligência universal e impessoal
que está na origem da Criação? Por outro lado, considerando que o
próprio homem realizou o que há de mais belo e de mais útil dentro das
ciências, das artes, da literatura, da arquitetura, da tecnologia, etc.;
e considerando que ele é capaz de ter e de expressar os sentimentos
mais nobres (amor, amizade, compaixão, admiração, etc.), como é possível
duvidar que ele tenha algo de divino, ou seja, uma alma?
Como dissemos no início desta carta, respeitamos as convicções de cada
um, de modo que compreendemos que alguns dentre vocês não manifestam
mais o interesse pela espiritualidade, no sentido que demos a ela
anteriormente, ou pela religiosidade. Por outro lado, a necessidade de
instaurar mais humanismo neste mundo deveria ser evidente para a grande
maioria das pessoas. Mas existe apenas uma solução para o futuro: é
necessário que cada um se empenhe em se tornar humanista em pensamentos,
palavras e atos, o que implica em colocar o que há de melhor em você a
serviço do bem comum. Finalmente, retornemos à necessidade de despertar e
de expressar as virtudes que dão dignidade ao homem, e que atribuímos,
no nosso modo de ver, ao que há de mais divino nele.
Não estamos aqui na Terra para sofrer nem para expiar um pecado
hipotético original, mas para conhecer a felicidade e evoluir
gradativamente para um estado de consciência sempre mais elevado. E se o
mundo não vai bem, Deus não tem nada a ver com isso, nem o Diabo, que,
diga-se de passagem, não existe. São os erros do próprio homem, que em
sua maioria ainda está sob o domínio dos aspectos mais negativos do ego,
dando passagem para o egoísmo, a inveja, a intolerância, a violência,
etc. Para tornar o mundo melhor, eles devem transcender e aprender a
manifestar sua generosidade, o desapego, a tolerância, a não-violência,
etc. Como? Esforçando-se para transmutar cada um de seus defeitos na
qualidade oposta, até se tornarem seres humanos realizados. É exatamente
a essa alquimia espiritual que os Rosacruzes se consagram desde sempre.
Independentemente de nossas crenças religiosas, de nossas ideias
políticas e de nossas convicções filosóficas ou outras coisas, trata-se
de um fato com relação a que vocês podem concordar conosco: o homem está
apenas de passagem pela Terra. Um autor disse que “o túmulo mais belo é
o coração dos vivos”. Portanto, que lembrança deseja deixar para os
seres que partilharam de sua existência ou que você conheceu? Que
herança quer deixar para as crianças de hoje e para as gerações futuras?
Que imagem de si mesmo espera levar no momento final de deixar este
mundo? Como devem ter compreendido, são respostas dadas a essas
perguntas que, na sua consciência assim como em sua alma, determinam o
sentido que você dá à vida. São elas também que traduzem sua natureza
profunda e a consideração que têm por você e pelos outros.
Na nossa maneira de pensar, achamos que nossa existência não termina com
o que chamamos de ‘morte’. Para nós, a morte é apenas uma transição
para um mundo puramente espiritual. Ainda mais, muitos de nós estamos
convencidos de que todos os seres humanos reencarnam na Terra diversas
vezes, para dar continuidade à sua evolução e realizar sua busca de
aperfeiçoamento. Assim, o significado que damos à nossa vida condiciona o
significado que damos à morte, ao pós-vida e às nossas vidas futuras.
Seja como for, vamos convir que é aqui e agora que se constrói o mundo
futuro. Se quisermos que ele se conforme às nossas esperanças mais caras
e se torne para todos um lugar de paz, de harmonia e de fraternidade,
unamos nossos esforços para que surja uma Nova Humanidade, prelúdio de
uma Nova civilização.
É isso que queremos submeter à sua reflexão. Estamos conscientes que as
idéias que partilhamos com você não têm nada de original em si, mas
achamos que elas podem corroborar as idéias de alguns, e incitar outros a
se interrogarem. Esclarecemos também que elas não são de fato novas. Os
Rosacruzes do século XVII, a quem estamos ligados, já usavam a mesma
linguagem. Como testemunho disso, e essa será nossa conclusão, eis o
que, Comenius, um deles, considerado atualmente o pai espiritual da
UNESCO, declarou na época:
“Queremos que os homens, individual e coletivamente, jovens ou velhos,
ricos ou pobres, nobres ou plebeus, homens ou mulheres, possam ser
plenamente educados e se tornar seres humanos realizados. Queremos que
sejam perfeitamente instruídos e informados, não apenas sobre um ou
outro ponto, mas também sobre tudo o que permite ao homem realizar
integralmente sua essência, aprender a conhecer a verdade, não ser
enganado por falsos pretextos, amar o bem e a não ser seduzido pelo mal,
fazer o que deve ser feito e evitar o que precisa ser evitado, falar
com sabedoria de tudo e com todos, e nunca se desviar de seu objetivo
maior que é a felicidade”.
Se achar que esta carta-aberta pode interessar a pessoas de seu
conhecimento, sinta-se à vontade para divulgá-la. Se, ao contrário, não
partilhar nem do conteúdo nem da forma, desconsidere-a e pratique em
relação a nós uma das virtudes que mais apreciamos: a tolerância.
Desejando-lhes toda a felicidade possível, enviamos a todos os nossos
pensamentos mais fraternos e os nossos melhores votos de Paz Profunda.
Sinceramente,
Pela Jurisdição de Língua Francesa da AMORC.
Serge Toussaint
Grande Mestre
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
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