Análise de Alguns Problemas Contidos no
“Discurso do Método” (da Primeira à Quarta Parte)
Na Primeira Parte:
René Descartes inicia o seu discurso estabelecendo como óbvia a existência de bom senso, ou razão, ou o poder de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso, na natureza humana, evidenciada pela certeza intrínseca, em cada pessoa, de que a possui. Esse bom senso, ou essa razão, apesar de aparentemente existir em maior ou menor grau neste ou naquele indivíduo, manifestar-se-ia por igual no interior de cada um. A diferença estaria, então, no direcionamento e na condução da aplicação da razão: o método utilizado. Adverte que alguém pode ser uma boa alma e, no entanto, por aplicação indevida da razão, pode também ser capaz de sucumbir aos maiores vícios.
Como exemplo, toma a si mesmo. Descartes se considera normal e, diante de muitos, aquém, mesmo, na rapidez do pensamento, na nitidez e distinção da imaginação e na amplidão e instantaneidade da memória, qualificando, conseqüentemente, um espírito de perfeito, quando detentor de pensamento, imaginação e memória em excelência de operacionalização.
Então propõe o seu método para aumentar gradativamente o conhecimento e atingir, aos poucos, o grau máximo possível a um ser humano. E ele o teria aplicado em si mesmo, garantindo ter alcançado sucesso na busca da verdade; empreendimento tal considerado por Descartes como o mais nobre dentre todos os que ocupam a humanidade.
Humilde, reconhece a possibilidade de estar equivocado. Num outro extremo, completamente confiante na firmeza estrutural do seu método, ousa afirmar que está certo. Diplomático, sugere apenas revelar um método pessoal de condução de sua razão e não a dos outros, passível, no entanto, de utilização segura e eficaz por quem quer que seja. Astuto e sagaz, busca angariar seguidores. Sutil e contumaz, busca escapar à censura, em razão de uma mínima falha do seu método, que porventura venha a ser encontrada. Envolvente, cativa e seduz o leitor/buscador curioso.
Na Segunda Parte:
...Fechado num quarto bem aquecido... No inverno da Alemanha, no período da Guerra dos 30 Anos, René Descartes, absorto em seus profundos pensamentos toma consciência de que não há perfeição nas obras compostas por diversos mestres se comparadas com as que foram trabalhadas por apenas um. Assim, chega à conclusão:...trabalhando exclusivamente em obras alheias, é difícil fazer coisas completas.
Começou, então, a duvidar da veracidade absoluta da herança cultural recebida do passado, lentamente desenvolvida e confusamente assimilada como própria, uma vez que todo o conhecimento depende dos nossos sentidos e juízos que não são nem puros e nem sólidos e, tampouco, seguros.
Então, todo o conhecimento adquirido deveria ser cuidadosamente analisado em toda a sua estrutura para ser descartado ou mesmo conservado, a depender da validade, ou não, encontrada sob o crivo de minuciosa verificação.
Quando diz: È muito difícil tornar a erguer grandes corpos depois de abatidos... René Descartes revela toda a dificuldade de reestruturarmos um universo de pensamento solidificado e absolutamente aceito como verdadeiro, sendo que nós mesmos somos enredados no dilema terrível entre a acomodação sonolenta dos nossos conceitos preestabelecidos ou a enriquecedora redescoberta de nossa concepção de mundo. E, como a justificar o motivo pelo qual comumente sedemos à tentação de permanecermos prisioneiros de velhos erros, continua:...são eles (os nossos conceitos preestabelecidos), quase sempre, mais suportáveis do que se fossem mudados, da mesma maneira por que os grandes caminhos que circulam as montanhas vão aos poucos tornando-se batidos e tão cômodos, à força de serem freqüentados, que é muito melhor segui-los do que procurar caminhar mais reto, escalando rochas e descendo até o fundo dos precipícios.
Mas a sua verdadeira intenção não era a mudança impensada e gratuita, ou revolucionária, como aqueles de temperamentos perturbadores e inquietos que, não sendo chamados, nem pelo nascimento nem pela fortuna, a dirigir os negócios públicos, não cessam de fazer, em idéia, alguma nova reforma. Ao contrário, não é o mundo que Descartes quer mudar, mas sim a si mesmo. Porém, ao pretender fazê-lo, ele tem plena consciência das implicações relativas aos abalos nas estruturas conceptuais do próprio mundo. E este mesmo mundo seria composto de dois tipos de espírito, segundo Descartes: os precipitados e os prudentes (... tendo bastante razão ou modéstia para julgar-se menos capazes de distinguir o verdadeiro do falso do que alguns outros...).
Então, foi que Descartes estabeleceu quatro preceitos para se chegar ao conhecimento da verdade a que é dada ao homem compreender, enquanto homem: 1º - Nunca aceitar como verdadeiro algo que não se conheça evidentemente como tal, nem pela precipitação nem pela prevenção, mas somente aquilo que se apresente de modo claro e distinto ao espírito e de que não se tenha a menor dúvida; 2º - Dividir cada dificuldade a analisar em tantas partes quanto possível para chegar à resolução almejada; 3º - Direcionar a ordem dos pensamentos do mais simples ao mais complexo; 4º - Fazer, em cada análise, enumerações e revisões minuciosas, completas e gerais, a ponto de ter certeza da inexistência de omissão alguma.
Desta forma, mais adiante, ele afirma que o que mais o satisfazia neste método, era que por meio dele, ele estava seguro de usar, em cada coisa, sua própria razão, se não perfeitamente, ao menos da melhor forma...possível.
Na Terceira Parte:
René Descartes prepara então a formação da moral provisória: munir-se de segurança efetiva para efetivação de mudança segura.
Pauta-se, conforme os passos descritos abaixo.
Primeiro: obedecer às leis do país em que se mora e conservar-se na religião da infância, em tudo o mais, usar da moderação na vida. Assim por extrema necessidade de isolamento das preocupações mundanas, bem como tranqüilidade para propiciar o exercício constante e ininterrupto do pensar filosófico.
Segundo: ser tão firme e tão resoluto quanto possível nas ações; como o viajante perdido na floresta, preferir andar sempre em linha reta a vagar de um lado a outro ou manter-se parado. Renunciar as próprias opiniões, assim como a de outros mais, se estas se demonstrarem inócuas diante de abalizadas heranças culturais do passado.
Terceiro: procurar vencer a si mesmo, à fortuna; modificar antes os próprios desejos do que a ordem do mundo e habituar-se à crença de não haver nada tão inteiramente em nosso poder como os nossos pensamentos, tanto que após fazermos o melhor possível e não conseguirmos atingir o objetivo é que atingimos a absoluta impossibilidade de concretização. Batalha travada constantemente em virtude da natureza mesma do ser pequeno que serve de ninho para o Ser que, possuidor da Razão, encontra-se adormecido à espera da disciplina metodológica que advenha em seu socorro, propiciando-lhe manifestação.
Na Quarta Parte:
...Considerando que os mesmos pensamentos que temos quando acordados podem ocorrer-nos quando dormimos, sem que haja, então, um só verdadeiro, resolvi fingir que todas as coisas que outrora me entraram no espírito não eram mais verdadeiras do que as ilusões dos meus sonhos.
Que dizer da incerta realidade em que estamos inclusos? Aparentemente estamos despertos neste grandioso mar de vibrações eletromagnéticas, no entanto quão comum o encontrarmo-nos totalmente inconscientes de nós mesmos, em nossa real identidade de ser, por estarmos projetados em personagens fictícios na trama das relações sociais. Em suma, quantas vezes somos outros e não apenas nós mesmos em nossa vida, por pura necessidade de participação no sonho coletivo das interações humanas?
Mas, logo depois, observei que, enquanto pretendia assim considerar tudo como falso, era forçoso que eu, que pensava, fosse alguma coisa. Percebi, então que a verdade: penso, logo, existo, era tão firme e tão certa que nem mesmo as mais extravagantes suposições dos céticos poderiam abalá-la. E, assim julgando, concluí que poderia aceitá-la sem escrúpulo, como o primeiro princípio da filosofia que buscava.
É mesmo o instante em que nos despertamos de nossa inconsciência psicológica diante da vida, naquilo que se configurava como um quase sonho. Então percebemos que somos, ao pensar, e, pensando, despertamos para o fato de que existimos, independentemente do, ou em comunhão com, o mundo de fora.
...Tendo refletido sobre o que duvidava e que por conseguinte meu ser não era de todo perfeito, pois...perfeição maior que duvidar era conhecer, deliberei procurar de onde aprendera a pensar em algo mais perfeito do que eu , e conheci, com evidência, que algo deveria existir de natureza mais perfeita...: ...Deus.
Perfeição não é para homem. Para homem, é construção de caminho para Perfeição.
Análise de Alguns Problemas Contidos nas
“Regras para a Direção do Espírito” (da Primeira à Décima Segunda Regra)
“Discurso do Método” (da Primeira à Quarta Parte)
Na Primeira Parte:
René Descartes inicia o seu discurso estabelecendo como óbvia a existência de bom senso, ou razão, ou o poder de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso, na natureza humana, evidenciada pela certeza intrínseca, em cada pessoa, de que a possui. Esse bom senso, ou essa razão, apesar de aparentemente existir em maior ou menor grau neste ou naquele indivíduo, manifestar-se-ia por igual no interior de cada um. A diferença estaria, então, no direcionamento e na condução da aplicação da razão: o método utilizado. Adverte que alguém pode ser uma boa alma e, no entanto, por aplicação indevida da razão, pode também ser capaz de sucumbir aos maiores vícios.
Como exemplo, toma a si mesmo. Descartes se considera normal e, diante de muitos, aquém, mesmo, na rapidez do pensamento, na nitidez e distinção da imaginação e na amplidão e instantaneidade da memória, qualificando, conseqüentemente, um espírito de perfeito, quando detentor de pensamento, imaginação e memória em excelência de operacionalização.
Então propõe o seu método para aumentar gradativamente o conhecimento e atingir, aos poucos, o grau máximo possível a um ser humano. E ele o teria aplicado em si mesmo, garantindo ter alcançado sucesso na busca da verdade; empreendimento tal considerado por Descartes como o mais nobre dentre todos os que ocupam a humanidade.
Humilde, reconhece a possibilidade de estar equivocado. Num outro extremo, completamente confiante na firmeza estrutural do seu método, ousa afirmar que está certo. Diplomático, sugere apenas revelar um método pessoal de condução de sua razão e não a dos outros, passível, no entanto, de utilização segura e eficaz por quem quer que seja. Astuto e sagaz, busca angariar seguidores. Sutil e contumaz, busca escapar à censura, em razão de uma mínima falha do seu método, que porventura venha a ser encontrada. Envolvente, cativa e seduz o leitor/buscador curioso.
Na Segunda Parte:
...Fechado num quarto bem aquecido... No inverno da Alemanha, no período da Guerra dos 30 Anos, René Descartes, absorto em seus profundos pensamentos toma consciência de que não há perfeição nas obras compostas por diversos mestres se comparadas com as que foram trabalhadas por apenas um. Assim, chega à conclusão:...trabalhando exclusivamente em obras alheias, é difícil fazer coisas completas.
Começou, então, a duvidar da veracidade absoluta da herança cultural recebida do passado, lentamente desenvolvida e confusamente assimilada como própria, uma vez que todo o conhecimento depende dos nossos sentidos e juízos que não são nem puros e nem sólidos e, tampouco, seguros.
Então, todo o conhecimento adquirido deveria ser cuidadosamente analisado em toda a sua estrutura para ser descartado ou mesmo conservado, a depender da validade, ou não, encontrada sob o crivo de minuciosa verificação.
Quando diz: È muito difícil tornar a erguer grandes corpos depois de abatidos... René Descartes revela toda a dificuldade de reestruturarmos um universo de pensamento solidificado e absolutamente aceito como verdadeiro, sendo que nós mesmos somos enredados no dilema terrível entre a acomodação sonolenta dos nossos conceitos preestabelecidos ou a enriquecedora redescoberta de nossa concepção de mundo. E, como a justificar o motivo pelo qual comumente sedemos à tentação de permanecermos prisioneiros de velhos erros, continua:...são eles (os nossos conceitos preestabelecidos), quase sempre, mais suportáveis do que se fossem mudados, da mesma maneira por que os grandes caminhos que circulam as montanhas vão aos poucos tornando-se batidos e tão cômodos, à força de serem freqüentados, que é muito melhor segui-los do que procurar caminhar mais reto, escalando rochas e descendo até o fundo dos precipícios.
Mas a sua verdadeira intenção não era a mudança impensada e gratuita, ou revolucionária, como aqueles de temperamentos perturbadores e inquietos que, não sendo chamados, nem pelo nascimento nem pela fortuna, a dirigir os negócios públicos, não cessam de fazer, em idéia, alguma nova reforma. Ao contrário, não é o mundo que Descartes quer mudar, mas sim a si mesmo. Porém, ao pretender fazê-lo, ele tem plena consciência das implicações relativas aos abalos nas estruturas conceptuais do próprio mundo. E este mesmo mundo seria composto de dois tipos de espírito, segundo Descartes: os precipitados e os prudentes (... tendo bastante razão ou modéstia para julgar-se menos capazes de distinguir o verdadeiro do falso do que alguns outros...).
Então, foi que Descartes estabeleceu quatro preceitos para se chegar ao conhecimento da verdade a que é dada ao homem compreender, enquanto homem: 1º - Nunca aceitar como verdadeiro algo que não se conheça evidentemente como tal, nem pela precipitação nem pela prevenção, mas somente aquilo que se apresente de modo claro e distinto ao espírito e de que não se tenha a menor dúvida; 2º - Dividir cada dificuldade a analisar em tantas partes quanto possível para chegar à resolução almejada; 3º - Direcionar a ordem dos pensamentos do mais simples ao mais complexo; 4º - Fazer, em cada análise, enumerações e revisões minuciosas, completas e gerais, a ponto de ter certeza da inexistência de omissão alguma.
Desta forma, mais adiante, ele afirma que o que mais o satisfazia neste método, era que por meio dele, ele estava seguro de usar, em cada coisa, sua própria razão, se não perfeitamente, ao menos da melhor forma...possível.
Na Terceira Parte:
René Descartes prepara então a formação da moral provisória: munir-se de segurança efetiva para efetivação de mudança segura.
Pauta-se, conforme os passos descritos abaixo.
Primeiro: obedecer às leis do país em que se mora e conservar-se na religião da infância, em tudo o mais, usar da moderação na vida. Assim por extrema necessidade de isolamento das preocupações mundanas, bem como tranqüilidade para propiciar o exercício constante e ininterrupto do pensar filosófico.
Segundo: ser tão firme e tão resoluto quanto possível nas ações; como o viajante perdido na floresta, preferir andar sempre em linha reta a vagar de um lado a outro ou manter-se parado. Renunciar as próprias opiniões, assim como a de outros mais, se estas se demonstrarem inócuas diante de abalizadas heranças culturais do passado.
Terceiro: procurar vencer a si mesmo, à fortuna; modificar antes os próprios desejos do que a ordem do mundo e habituar-se à crença de não haver nada tão inteiramente em nosso poder como os nossos pensamentos, tanto que após fazermos o melhor possível e não conseguirmos atingir o objetivo é que atingimos a absoluta impossibilidade de concretização. Batalha travada constantemente em virtude da natureza mesma do ser pequeno que serve de ninho para o Ser que, possuidor da Razão, encontra-se adormecido à espera da disciplina metodológica que advenha em seu socorro, propiciando-lhe manifestação.
Na Quarta Parte:
...Considerando que os mesmos pensamentos que temos quando acordados podem ocorrer-nos quando dormimos, sem que haja, então, um só verdadeiro, resolvi fingir que todas as coisas que outrora me entraram no espírito não eram mais verdadeiras do que as ilusões dos meus sonhos.
Que dizer da incerta realidade em que estamos inclusos? Aparentemente estamos despertos neste grandioso mar de vibrações eletromagnéticas, no entanto quão comum o encontrarmo-nos totalmente inconscientes de nós mesmos, em nossa real identidade de ser, por estarmos projetados em personagens fictícios na trama das relações sociais. Em suma, quantas vezes somos outros e não apenas nós mesmos em nossa vida, por pura necessidade de participação no sonho coletivo das interações humanas?
Mas, logo depois, observei que, enquanto pretendia assim considerar tudo como falso, era forçoso que eu, que pensava, fosse alguma coisa. Percebi, então que a verdade: penso, logo, existo, era tão firme e tão certa que nem mesmo as mais extravagantes suposições dos céticos poderiam abalá-la. E, assim julgando, concluí que poderia aceitá-la sem escrúpulo, como o primeiro princípio da filosofia que buscava.
É mesmo o instante em que nos despertamos de nossa inconsciência psicológica diante da vida, naquilo que se configurava como um quase sonho. Então percebemos que somos, ao pensar, e, pensando, despertamos para o fato de que existimos, independentemente do, ou em comunhão com, o mundo de fora.
...Tendo refletido sobre o que duvidava e que por conseguinte meu ser não era de todo perfeito, pois...perfeição maior que duvidar era conhecer, deliberei procurar de onde aprendera a pensar em algo mais perfeito do que eu , e conheci, com evidência, que algo deveria existir de natureza mais perfeita...: ...Deus.
Perfeição não é para homem. Para homem, é construção de caminho para Perfeição.
Análise de Alguns Problemas Contidos nas
“Regras para a Direção do Espírito” (da Primeira à Décima Segunda Regra)
Na Regra I: Os estudos devem ter por finalidade a orientação do espírito...
De nada vale o acúmulo da inutilidade. Basta que seja trilhado uma pequena parte do caminho para a perfeição, desde que haja consciência de construção efetuada.
Na Regra II: É melhor não estudar nunca, do que se ocupar de objetos de tal modo difíceis que, não podendo distinguir os verdadeiros dos falsos, vejamo-nos tomar como certo o que é duvidoso já que neles não há tanta esperança de aumentar a instrução como o perigo de diminuí-la.
A honestidade é posta à prova diante da vaidade da ostentação da falsa condição de douto, quando de fato tão somente se ignora.
Na Regra III: Entendo por intuição não o testemunho flutuante dos sentidos nem o juízo enganador de uma imaginação de composições inadequadas, mas o conceito do espírito puro e atento, tão fácil e distinto, que não fique absolutamente dúvida alguma a respeito daquilo que compreendemos, ou o que é a mesma coisa, o conceito do espírito puro e atento, sem dúvida possível, que nasce apenas da luz da razão, e que, por ser mais simples, é mais certo que a mesma dedução, a qual, todavia não pode ser malfeita pelo homem...
À luz da Razão, percebe-se nitidamente a real natureza de algo, sua procedência e seu objetivo último. Intuir nada mais é que, em intenção de espírito, sobrevoar e observar do alto o observador, o observado e tornar-se a observação mesma, numa cumplicidade cognitiva.
Na Regra IV: O método é necessário para a busca da verdade.
Ao marinheiro, a bússola. Ao filósofo, o método.
Na Regra V: Todo o método consiste na ordem e disposição das coisas, para as quais é necessário dirigir a agudeza do espírito para descobrir a verdade.
A devida atenção concentrada naquilo que mais interessa: o conhecimento como descoberta da verdade.
Na Regra VI: O segredo de toda arte está em buscarmos com diligência em todas as coisas o que há de mais absoluto.
Descartar o supérfluo e os atalhos no caminho. Caminhar, interiormente, sempre em linha reta, mesmo que o caminho exterior se nos apresente sinuoso.
Na Regra VII: Quando um conhecimento não se pode reduzir à intuição, não nos fica, depois de romper todas as cadeias de silogismos, outro caminho senão o da enumeração, no qual devemos acreditar inteiramente. Todas as proposições que temos deduzido umas de outras já estão reduzidas a uma verdadeira intuição.
Intuir é confiar. Deduzir é creditar.
Na Regra VIII: Para não estar sempre incerto sobre o que pode e para evitar que não trabalhe em vão e sem reflexão, antes de abordar o conhecimento das coisas em particular, é preciso haver examinado cuidadosamente, uma vez na vida, que conhecimentos a razão humana é capaz. Há limites aos quais, incondicionalmente, temos que nos conformar enquanto criaturas humanas, senão o caminhar seria um não caminhar, o que equivaleria a uma farsa.
Na Regra IX: É um defeito comum aos mortais considerar mais belo o que é mais difícil...
Não se pode dar o último passo antes do primeiro, a menos que o percurso se componha de um passo apenas, mas, aí então, o último (o mais difícil) seria o primeiro (o mais fácil). Aliás, tem-se que se encarar cada simples passo como se difícil fosse, pois nunca se sabe dos reais perigos e traiçoeiras armadilhas a povoarem o percurso.
Na Regra X: Para que o espírito se torne sagaz, deve exercitar-se em investigar as mesmas coisas que já foram encontradas por outros e em percorrer com método todos os menos importantes artifícios dos homens, e sobretudo aqueles que manifestam ou supõem.
Só se sabe Caminho, caminhando. Mas que seja passo a passo, com cautela e critério, pois o piso ora é suave, ora pedregoso. Pegada no chão é sinal que se nos mostra à frente e sedimento na areia para os que sucedem.
Na Regra XI: Depois da intuição de algumas proposições simples, se delas tirarmos outra conclusão, é útil percorrê-las por meio de um movimento contínuo do pensamento e em nenhum lado interrompido, refletir sobre suas mútuas relações e, fazendo todo o possível, conceber distintamente várias coisas ao mesmo tempo; pois é assim que nosso conhecimento se torna muito mais certo e é aumentada a capacidade do espírito.
Visão holística da realidade através dos diversos ângulos possíveis ao nosso alcance.
Na Regra XII: No que diz respeito ao conhecimento, duas coisas são necessárias ter em conta, a saber, nós, que conhecemos, e as coisas a conhecer (Dialética do Caminhar).
BIBLIOGRAFIA
Descartes, R. DISCURSO DO MÉTODO e REGRAS PARA A DIREÇÃO DO ESPÍRITO. Trad. Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2002.
Jorge Pi
De nada vale o acúmulo da inutilidade. Basta que seja trilhado uma pequena parte do caminho para a perfeição, desde que haja consciência de construção efetuada.
Na Regra II: É melhor não estudar nunca, do que se ocupar de objetos de tal modo difíceis que, não podendo distinguir os verdadeiros dos falsos, vejamo-nos tomar como certo o que é duvidoso já que neles não há tanta esperança de aumentar a instrução como o perigo de diminuí-la.
A honestidade é posta à prova diante da vaidade da ostentação da falsa condição de douto, quando de fato tão somente se ignora.
Na Regra III: Entendo por intuição não o testemunho flutuante dos sentidos nem o juízo enganador de uma imaginação de composições inadequadas, mas o conceito do espírito puro e atento, tão fácil e distinto, que não fique absolutamente dúvida alguma a respeito daquilo que compreendemos, ou o que é a mesma coisa, o conceito do espírito puro e atento, sem dúvida possível, que nasce apenas da luz da razão, e que, por ser mais simples, é mais certo que a mesma dedução, a qual, todavia não pode ser malfeita pelo homem...
À luz da Razão, percebe-se nitidamente a real natureza de algo, sua procedência e seu objetivo último. Intuir nada mais é que, em intenção de espírito, sobrevoar e observar do alto o observador, o observado e tornar-se a observação mesma, numa cumplicidade cognitiva.
Na Regra IV: O método é necessário para a busca da verdade.
Ao marinheiro, a bússola. Ao filósofo, o método.
Na Regra V: Todo o método consiste na ordem e disposição das coisas, para as quais é necessário dirigir a agudeza do espírito para descobrir a verdade.
A devida atenção concentrada naquilo que mais interessa: o conhecimento como descoberta da verdade.
Na Regra VI: O segredo de toda arte está em buscarmos com diligência em todas as coisas o que há de mais absoluto.
Descartar o supérfluo e os atalhos no caminho. Caminhar, interiormente, sempre em linha reta, mesmo que o caminho exterior se nos apresente sinuoso.
Na Regra VII: Quando um conhecimento não se pode reduzir à intuição, não nos fica, depois de romper todas as cadeias de silogismos, outro caminho senão o da enumeração, no qual devemos acreditar inteiramente. Todas as proposições que temos deduzido umas de outras já estão reduzidas a uma verdadeira intuição.
Intuir é confiar. Deduzir é creditar.
Na Regra VIII: Para não estar sempre incerto sobre o que pode e para evitar que não trabalhe em vão e sem reflexão, antes de abordar o conhecimento das coisas em particular, é preciso haver examinado cuidadosamente, uma vez na vida, que conhecimentos a razão humana é capaz. Há limites aos quais, incondicionalmente, temos que nos conformar enquanto criaturas humanas, senão o caminhar seria um não caminhar, o que equivaleria a uma farsa.
Na Regra IX: É um defeito comum aos mortais considerar mais belo o que é mais difícil...
Não se pode dar o último passo antes do primeiro, a menos que o percurso se componha de um passo apenas, mas, aí então, o último (o mais difícil) seria o primeiro (o mais fácil). Aliás, tem-se que se encarar cada simples passo como se difícil fosse, pois nunca se sabe dos reais perigos e traiçoeiras armadilhas a povoarem o percurso.
Na Regra X: Para que o espírito se torne sagaz, deve exercitar-se em investigar as mesmas coisas que já foram encontradas por outros e em percorrer com método todos os menos importantes artifícios dos homens, e sobretudo aqueles que manifestam ou supõem.
Só se sabe Caminho, caminhando. Mas que seja passo a passo, com cautela e critério, pois o piso ora é suave, ora pedregoso. Pegada no chão é sinal que se nos mostra à frente e sedimento na areia para os que sucedem.
Na Regra XI: Depois da intuição de algumas proposições simples, se delas tirarmos outra conclusão, é útil percorrê-las por meio de um movimento contínuo do pensamento e em nenhum lado interrompido, refletir sobre suas mútuas relações e, fazendo todo o possível, conceber distintamente várias coisas ao mesmo tempo; pois é assim que nosso conhecimento se torna muito mais certo e é aumentada a capacidade do espírito.
Visão holística da realidade através dos diversos ângulos possíveis ao nosso alcance.
Na Regra XII: No que diz respeito ao conhecimento, duas coisas são necessárias ter em conta, a saber, nós, que conhecemos, e as coisas a conhecer (Dialética do Caminhar).
BIBLIOGRAFIA
Descartes, R. DISCURSO DO MÉTODO e REGRAS PARA A DIREÇÃO DO ESPÍRITO. Trad. Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2002.
Jorge Pi
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