O projeto cartesiano apoiava-se num trabalho crítico com fins de revisar o saber tradicional. Através de sua dúvida metódica, ele buscou a suspensão do juízo de valor relativo a todos os conhecimentos herdados. Para isso, Descartes não intencionava examinar, mas recusar mesmo todos os conhecimentos estabelecidos e, por fim, reconstruir um novo saber. Ele buscava refutar a tradição aristotélico-tomista, substituindo velhos conceitos, como o de “forma substancial”, por novas idéias, causando, com isso, profundas modificações nos fundamentos da ciência.
Para Aristóteles, dois pares de noções eram estratégicos: forma/matéria e ato/potência. A forma era o que determinava a matéria, e a potência era o que possibilitava o ato. Sendo assim, algo que exista só existe por causa de sua substância, como essência à qual são acrescidos acidentes ou determinações não-acidentais, sendo que substância compõe-se de forma, enquanto atualização potencial, e matéria. Portanto, conhecer algo, para Aristóteles, era conhecer sua forma substancial. Por isso, sua física era o estudo da essência dos fenômenos em seus múltiplos movimentos ou variegadas mudanças, sendo a mais importante delas, como efeito de uma causa, a geração ou nascimento, uma espécie de modelo a partir do qual todas as outras mudanças são compreendidas ou explicadas. Então, a física de Aristóteles tinha uma característica biológica pela analogia mudança/mecanismo de reprodução, quanto à causa. Mudar era engendrar, fazer nascer. O movimento é concebido a partir de suas causas ou princípios. Os seres se dividiriam em artificiais, quando feitos pelo homem, e naturais, não fabricadas pelo homem, possuindo em si o princípio de vida ou de mudança (os animais, os vegetais, os minerais e, em maior grau, o homem). O princípio de vida seria a alma que, no homem, seria sua forma substancial. Assim, a física aristotélica seria interligada a uma psicologia. Se isso já era inaceitável para Galileu, que abandonara o estudo qualitativo das essências pelo quantitativo das relações matemáticas dos fenômenos, em Descartes tem um alcance metafísico mais amplo.
Já no tratado Do mundo, Descartes recusa as noções aristotélicas de forma, qualidade, ação e outras. Estabelece os termos extensão e movimento, juntamente com figura, como os princípios de sua física; faz distinção entre extensão e pensamento, físico e psíquico. O domínio de sua física estando apenas ligado aos fenômenos das substâncias extensas e não das pensantes. A reflexão cartesiana que estabelece a absoluta distinção entre as substâncias facilita a demolição das formas substanciais, através do procedimento crítico. Essa distinção possibilita o emprego do método geométrico no conhecimento do mundo físico, como princípio fundamental da física moderna que depois utilizará procedimentos físico-matemáticos. A filosofia cartesiana, por sua vez, terá como ponto de partida justamente a separação das substâncias. Buscando um ponto fixo e seguro para a reconstrução da ciência, Descartes se utiliza da dúvida metódica, não permanente como a cética, mas provisória, até que aquele que duvida se dê conta do exercício do duvidar e atinja o ponto limite, com a descoberta do pensamento. Ao duvidar e perceber que duvida, o sujeito constata a sua necessária presença no processo, entendendo, assim, inegavelmente, que pensa, logo, existe.
Já no tratado Do mundo, Descartes recusa as noções aristotélicas de forma, qualidade, ação e outras. Estabelece os termos extensão e movimento, juntamente com figura, como os princípios de sua física; faz distinção entre extensão e pensamento, físico e psíquico. O domínio de sua física estando apenas ligado aos fenômenos das substâncias extensas e não das pensantes. A reflexão cartesiana que estabelece a absoluta distinção entre as substâncias facilita a demolição das formas substanciais, através do procedimento crítico. Essa distinção possibilita o emprego do método geométrico no conhecimento do mundo físico, como princípio fundamental da física moderna que depois utilizará procedimentos físico-matemáticos. A filosofia cartesiana, por sua vez, terá como ponto de partida justamente a separação das substâncias. Buscando um ponto fixo e seguro para a reconstrução da ciência, Descartes se utiliza da dúvida metódica, não permanente como a cética, mas provisória, até que aquele que duvida se dê conta do exercício do duvidar e atinja o ponto limite, com a descoberta do pensamento. Ao duvidar e perceber que duvida, o sujeito constata a sua necessária presença no processo, entendendo, assim, inegavelmente, que pensa, logo, existe.
Questão:
Em que está baseada a crítica ao aristotelismo tomista, feita por Descartes?
- A crítica ao aristotelismo tomista feita por Descartes, baseia-se na “(...) denúncia de que conceber a presença de qualidades e ações nos corpos físicos nos impede de concebê-los como físicos e que, portanto, a clareza que se deseja na ciência da natureza deve começar por uma separação completa entre o físico e o psíquico”, pois sem a necessária separação entre estas duas instâncias somente nos resta confusão e, conseqüentemente não são estabelecidos os fundamentos apropriados para a instauração da verdadeira ciência. Ao divisar as noções de substância extensa e substância pensante, como norteadoras para o campo de ação da sua proposta de ciência, no primeiro, e o de filosofia, no segundo, Descartes torna claros e distintos os novos rumos das investigações do conhecimento como um todo, ao tempo em que deixa patente o equívoco de todo uma sistema que, fundado em uma visão equivocada da realidade, trazia em si, inapelavelmente, o gérmen da sua auto-destruição.
Jorge Pi
Fonte:
LEOPOLDO E SILVA, Franklin. Descartes. A Metafísica da Modernidade. São Paulo. Moderna, 1993, pp. 45-52.
Um comentário:
Descartes pode ser considerado o maior culpado da alienação atual, ele tentou se consiliar com Deus dizendo que ele existe independente de qualquer coisa... depois sua razão passou a ser altamente mecanica e matemattica...
"penso logo existo" vamos refletir é o pensamento individual que determina sua existencia? NÂO é o pensamento o outro, o coletivo, que vai determina o seu eu.
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